Estudo: Células do Cérebro podem Prejudicar a Saúde Mental

Cientistas acreditam que determinadas células do cérebro podem prejudicar a saúde mental, ao mesmo tempo que são importantes

Cientistas, desde já, têm apontado cada vez mais para o papel estratégico das micróglias, acreditando que essas células podem influenciar uma gama de condições. Isso vai desde o vício e a dor até doenças complexas como Alzheimer, depressão, ansiedade, covid longa e encefalomielite miálgica (EM).

O cérebro, em síntese, é composto por dois tipos de células. Os neurônios, ou células nervosas, agem como mensageiros, transmitindo informações pelo corpo através de impulsos elétricos. Já as células da glia formam a estrutura de suporte.

Entre elas, a micróglia, que constitui cerca de 10% das células cerebrais, possui um “corpo” oval do qual se estendem ramificações delgadas, proporcionando uma rede de monitoramento e resposta no cérebro.

Entenda como Essas Células do Cérebro podem Prejudicar a Saúde Mental

Acima de tudo, quando funcionam bem, as micróglias são essenciais para a saúde do cérebro. Durante os primeiros anos de vida, por exemplo, essas células guiam o desenvolvimento cerebral ao “podar” conexões sinápticas desnecessárias entre os neurônios.

Além disso, elas influenciam quais células se tornam neurônios e cuidam da reparação e manutenção da mielina — camada isolante que envolve os neurônios e permite a transmissão dos impulsos elétricos. Atuam, ainda, como defensoras do sistema nervoso, identificando e destruindo bactérias e vírus que possam causar infecções no cérebro.

Entretanto, sob certas condições, as micróglias podem agir de forma prejudicial. “A micróglia tem dois lados — um lado bom e um lado ruim. Elas estão atentas a qualquer tipo de problema no cérebro, mas quando são superestimuladas, deixam de ser as mocinhas vigilantes e passam a ser as vilãs patológicas“, explica Linda Watkins, neurocientista da Universidade do Colorado em Boulder, nos EUA.

Por Que essas Células podem Se Rebelar?

Quando as micróglias percebem um problema no cérebro, bem como uma infecção ou o acúmulo de placas amiloides, elas entram em estado de super-reatividade. Logo, as células aumentam de tamanho, retraem seus apêndices e passam a se mover ativamente, eliminando os danos por meio de um processo de “devoração”.

Do mesmo modo, a micróglia ativada libera citocinas inflamatórias — substâncias que atuam como um sinal, recrutando outras células imunológicas e micróglias para responderem à ameaça. Essa reação é essencial para ajudar o corpo a combater invasores e proteger o cérebro. Normalmente, após certo tempo, as micróglias retornam ao seu estado “benéfico” de vigilância.

Micróglias em Alerta Permanente

Por vezes, a micróglia pode permanecer em um estado de superestimulação mesmo depois que o agente infeccioso foi eliminado. Hoje, pesquisadores acreditam que essas micróglias desreguladas possam estar relacionadas a uma variedade de doenças e condições modernas.

Um exemplo é o vício. Esse problema foi tradicionalmente considerado um distúrbio ligado ao sistema de dopamina, onde desequilíbrios desse neurotransmissor são vistos como os responsáveis pelo comportamento de dependência em relação a drogas.

Micróglia e Drogas: Um Novo Mecanismo de Vício?

Analogamente, Watkins propõe uma teoria alternativa. Em um artigo recente, ela e pesquisadores da Academia Chinesa de Ciências sugerem que, ao entrar em contato com drogas, a micróglia as identifica como “invasores” estranhos.

Em suma, quando a micróglia detecta substâncias como opiáceos, cocaína ou metanfetamina, libera citocinas, promovendo uma hiperestimulação dos neurônios ativos durante o consumo da droga.

Esse processo, então, leva à criação de novas e mais fortes conexões entre neurônios, além de intensificar a liberação de dopamina, reforçando o desejo pelo uso de drogas. Dessa forma, a micróglia modifica a estrutura dos neurônios no cérebro, consolidando hábitos de consumo de drogas que podem se estender por toda a vida.

"O que descobrimos por meio da nossa própria pesquisa é que uma variedade de opiáceos ativam as células microgliais, e fazem isso, pelo menos em parte, por meio do que é chamado de receptores do tipo Toll (TLR)".
– Linda Watkins

O Papel da Micróglia no Envelhecimento e na Origem do Alzheimer

Por analogia, essa “preparação” contínua da micróglia pode ser um fator essencial para o desenvolvimento do Alzheimer. O principal fator de risco para a doença é o envelhecimento, e à medida que envelhecemos, a micróglia pode se tornar mais alerta e propensa a reagir, o que contribui para o risco.

Além disso, um dos traços mais marcantes do Alzheimer é o acúmulo de placas de proteína amiloide no cérebro, um processo que começa décadas antes dos sintomas de confusão mental e perda de memória se tornarem evidentes.

Como uma das funções da micróglia é identificar e remover essas placas, é possível que a ativação repetida ao longo dos anos faça com que a micróglia entre em um estado hiper-reativo permanente.

Referência: BBC News Brasil.